Conheça a história do homem que moldou a paisagem espiritual e urbana da cidade e o monumento que celebra seu legado.
No coração de Bom Jesus da Lapa, um espaço de convívio e memória se destaca: a Praça Monsenhor Turíbio. Mais do que um logradouro, é uma homenagem perene a Turíbio Villanova Segura, o sacerdote espanhol cujo amor e dedicação à cidade deixaram marcas indeléveis. Visitar esta praça é mergulhar em um capítulo fundamental da história local.
O Jovem Sacerdote que Adotou o Brasil
Historiadores descrevem Monsenhor Turíbio como um homem de andar apressado e sorriso fácil. Com seus olhos azuis, cabelos loiros à moda militar e uma batina impecável, sua fala rápida inicialmente desafiava a compreensão dos locais. Contudo, sua persistência, auxiliada por um dicionário de Cândido de Figueiredo, logo o fez dominar o português, permitindo uma conexão ainda mais profunda com sua nova comunidade.
Monsenhor Turíbio: Fé, Intelecto e Ação Transformadora
A chegada de Monsenhor Turíbio ocorreu apenas uma década após a emancipação de Bom Jesus da Lapa como cidade. Sua presença foi catalisadora. Homem de profunda fé, aguçado intelecto e uma energia contagiante, ele liderou uma série de iniciativas que impulsionaram o desenvolvimento da cidade.
Por 23 anos, até 1956, esteve à frente da igreja de Pedra e Luz. Durante sua gestão, enriqueceu o santuário com novas imagens, introduziu os primeiros ícones da Via Sacra e, notavelmente, idealizou a imponente Torre do Santuário.

Sua atuação não se limitou ao espiritual. Monsenhor Turíbio reorganizou o Abrigo dos Pobres, a principal instituição de caridade do município, entregando-o reformado em 1938, com 15 leitos, duas enfermarias e materiais essenciais para tratamentos.
Um Coração Lapense em Terra Estrangeira
Apesar de suas raízes espanholas, o coração de Monsenhor Turíbio pertencia a Bom Jesus da Lapa. Seu desejo, expresso em testamento, era ser sepultado na cidade que tanto amou. Falecido em 1969 no Rio de Janeiro, foi inicialmente enterrado lá. Contudo, no dia da inauguração da praça que leva seu nome, seus restos mortais foram transladados para a Gruta da Soledade – espaço que ele mesmo havia aberto na Igreja da Lapa – cumprindo seu último desejo e selando o reconhecimento da cidade.
As homenagens no dia da inauguração incluíram alvorada, carreata e a entrega oficial da Praça Monsenhor Turíbio Vila Nova. Seu legado já era celebrado com o nome de uma instituição de ensino, o Colégio Estadual Monsenhor Turíbio. O amor pela cidade era tanto que, ao partir, levou consigo um pouco da terra local, água do Rio São Francisco e uma pedra do morro da Lapa.
A Imponente Estátua: Guardião da Memória e Boas-Vindas aos Visitantes
Na Praça Monsenhor Turíbio Vila Nova, ergue-se uma estátua de aproximadamente 4 metros do sacerdote. Ela o retrata no momento de sua partida da cidade, segurando a resenha histórica de Bom Jesus da Lapa, inspirada em monumentos como o de Padre José de Anchieta em São Paulo.
Curiosamente, a estátua não está voltada para o Santuário, mas sim posicionada como quem acolhe os romeiros e visitantes que chegam à cidade. A praça, com seus três arcos, dialoga arquitetonicamente com a Praça da Fé, inspirando-se no estilo romano.
As Placas Históricas: Uma Viagem no Tempo aos Pés do Monsenhor
Na base da estátua, quatro placas em alto relevo narram momentos cruciais da trajetória de Bom Jesus da Lapa, convidando o visitante a uma imersão na rica história local:
1. “1543 – Itaberaba Pedra Resplandecente”
Esta placa remete às origens do nome da cidade. “Itaberaba”, em tupi, significa “pedra reluzente”, termo usado por bandeirantes. “Lapa” deriva do latim “lápis” (pedra). A placa também homenageia os índios tapuias, primeiros habitantes da região.
2. “1691 – O Monge funda o Santuário do Bom Jesus da Lapa”
Recorda a chegada do português Francisco Mendonça Mar em 1691. Em penitência, ele se instalou em uma gruta, e sua fama de homem santo atraiu peregrinos, dando origem ao povoado.
3. “1888 – Romaria Negra”
Celebra a “Romaria do Fim da Escravidão”, ocorrida um mês após a Lei Áurea. Este evento marcou o primeiro grande encontro de romeiros e destacou a organização das comunidades negras da Bahia, consolidando a vocação religiosa do município.
4. “1923 – A vila do Bom Jesus da Lapa é elevada à categoria de cidade”
Marca o ápice do crescimento da região, que, impulsionada pelas romarias ao Santuário do Senhor Bom Jesus, evoluiu de povoado para vila e, finalmente, tornou-se cidade.
Visitar a Praça Monsenhor Turíbio é, portanto, uma oportunidade única de se conectar com a alma de Bom Jesus da Lapa, compreendendo as raízes de sua fé e o legado de um homem que dedicou sua vida a esta terra abençoada.